O segundo tema do 8º Fórum de Direito da Saúde da Femipa apresentou a questão do “Compliance em instituições de saúde”, ainda como parte da programação da manhã de terça-feira (28). O assunto foi abordado pela gerente de Compliance da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, Rocheli Mota Cardoso Silveira, que trouxe a experiência da instituição como exemplo prático.
O compliance se refere à conformidade, derivando do verbo inglês “to comply”, sendo a área dentro das organizações responsável pelo conjunto de ações que buscam alinhar as práticas e os comportamentos para institucionalizar normas e regimentos legais. “O compliance é o amor que vamos colocar dentro da instituição, e temos uma necessidade de humanização”, destacou a gerente.
Ao longo de sua apresentação, Rocheli enfatizou a importância da troca de experiência entre os profissionais dessa área para o contínuo aprendizado sobre como lidar com os desafios em questões que extrapolam a ética dentro das instituições.
“As lideranças precisam ser éticas e é através delas que eu sei que o compliance vai ser executado. O compliance precisa ser de todos. Se nossa governança elege lideranças que reverberam com a instituição, o compliance precisa estar lá para se fazer efetivo. Não adianta Códigos de Conduta maravilhosos quando não temos apoio. Nós, operadores de compliance, precisamos estar juntos e conhecer a gestão”, observou a palestrante.
A partir desse esforço na garantia da ética, estabelece-se a construção de confiança com pacientes, fornecedores e parceiros, para demonstrar a integridade e a transparência, o que abre oportunidades, inclusive, para apoio financeiro de acionistas, sócios, além de atrair talentos de alto desempenho.
O custo da integridade é que qualquer deslize pode arranhar a imagem, como o caso de trabalho escravo em vinícolas gaúchas citado pela palestrante. No mercado em geral, esse debate caminha ao passo das práticas ESG (do inglês Ambiental, Social e Governança). “É o pequeno trabalho que vai dar sustentabilidade, e o compliance precisa descontruir a imagem de que é apenas burocracia, sendo aliado do ESG. Precisamos encará-lo como uma ferramenta de gestão que ajuda na construção de um trabalho mais ético, que inspira a confiança na marca, envolvendo todos os níveis de serviços e demandas resultando na solidez do negócio”, pontuou Rocheli.
Mudanças, impactos e práticas
A mudança de cultura passa pela repetição diária, a fim de preservar a ética e a integridade das instituições hospitalares. Segundo a consultoria KPMG, anualmente, 5% das empresas têm o faturamento bruto impactado por fraudes e irregularidades internas. “Lidar com a fraude e a corrupção é fácil quando contamos com o apoio dos auditores internos e olhamos os números. Nós mapeamos os riscos a partir da leitura dos contratos e da investigação das partes envolvidas. Agora, no caso do assédio em suas mais diversas formas, precisamos cuidar dos líderes e reter essas grandes referências, pois, algumas vezes, uma atitude ou uma palavra acabam com todo o trabalho”, ponderou Rocheli.
Para isso, a orientação é o investimento em treinamentos de forma incansável. “É necessário olhar as pessoas e o que é possível transformar. Quando começamos a ter sinergia com outros setores, vamos engajando os colaboradores, que passam a valorizar o ambiente hospitalar. Isso reflete nas famílias e nos pacientes e reduz custos mitigando os conflitos, ou seja, a transparência a partir de um negócio acessível e honesto que a sociedade agradece”, explicou a palestrante.
A Santa Casa possui cerca de 1,7 mil colaboradores e conta, hoje, com um Comitê de Ética com pessoas-chave. Rocheli observou que, para composição dessa equipe, é importante envolver a diretoria, gerência de apoio e administrativo, a fim de que essas pessoas se tornem replicadores do compliance na ponta. Com isso, efetiva-se o trabalho, e são esses representantes que vão fiscalizar a aplicação e execução do compliance.
A gerente orientou ainda que, ao lidar com vidas, é preciso ter cuidado, reforçando que o Código de Conduta precisa ser revisado anualmente ou a cada dois anos, pois as mudanças são constantes no cenário mercadológico e social. O olhar deve ser sempre “feito por pessoas, com pessoas e para pessoas”, sendo ilusão imaginar o sucesso dessas ações apenas por meio da existência de um conjunto de regras estabelecido, contratos assinados ou pela instalação de um canal de denúncias.
Além disso, a percepção sobre o colaborador(a) acaba sendo essencial, pois, às vezes, ele pede socorro, e o compliance é um canal de apoio. Assim, em cada área, é preciso educar as pessoas, mostrar a proatividade, manter a comunicação regular junto a uma boa explicação. E o Canal de Denúncia é o final da régua – se estiver lotado, significa que o compliance não está sendo efetivo.
“Não façam o compliance ser de fachada. Nada adianta o conhecimento das leis se não tem a cultura organizacional alinhada. E o poder de convencimento vem do relacionamento pessoal e passa por uma comunicação assertiva. Devemos acreditar que a pessoa mais difícil pode mudar e, se não for possível, tomam-se as medidas cabíveis dentro da legalidade”, concluiu Rocheli.
Texto: Assessoria de imprensa Femipa – Giórgia Gschwendtner
Foto: Pedro Vieira
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